Thailine Leite
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Com a
diversidade de documentos de arquivo que se há desde os primórdios até a contemporaneidade, compreender a respeito das espécies
documentais adequadamente é uma tarefa que exige uma análise mais profunda do
contexto do documento. Segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística de São
Paulo, AAB-SP (1996, p. 34), espécie é definida como “configuração que assume um documento de acordo com a disposição e a natureza
das informações nele contidas”. Em seu filme-documentário Gueto, a
diretora Yael Hersonski
utiliza de diferentes espécies documentais para a composição do mesmo, como
relatórios semanais de oficiais, testemunhos de sobreviventes, fotografias,
passes de entrada, informes financeiros, diários, alguns, como o caso das filmagens
encontradas, antes não considerados documentos de arquivo, passam a ter valor
de prova dos acobertamentos feitos pela propaganda nazista.
Como afirma
Lopez (2012, p.25): “Para a organização arquivística precisamos, além da identificação
e denominação do documento, entender a trama de relações internas decorrentes
das funções desempenhadas pelo produtor, as quais demandam o arquivamento de determinados
documentos, com finalidade probatória.” Assim, as diferentes espécies documentais
expostas no filme possuem, consequentemente, função específica dentro de cada
fundo arquivístico que em que estas se integram, onde, a espécie a depender da
função do documento para o titular definem o tipo documental.
Escolhendo três documentos contidos no filme, observa-se:
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Diretora do Documentário Gueto.
Disponível em zimbio. |
I) Transcrição do testemunho de Willy Wist – Com
as investigações a respeito de quem pudera ter feito as filmagens encontradas,
chega-se a Willy Wist, um dos cinegrafistas que gravaram tais filmagens, logo o
Tribunal alemão toma seu testemunho a respeito das gravações, produzindo as transcrições do testemunho. No documentário
há a ressignificação do documento no fundo de Hersonski, expondo a narrativa do
testemunho de Wist em seu documentário.
II) Testemunhos, produzidos para o documentário, dos
moradores do Gueto de Varsóvia que sobreviveram, mostram estes comparando e relatando o que vivenciaram em contraste com as filmagens encontradas.
III) Diários de Adam
Czerniakow, onde este integrava o Conselho Judeu, possuindo como tarefa dentro do
Gueto de Varsóvia dirigir o confinamento dos judeus de acordo com as ordens
nazistas. Czerniakow documentou sua vida diária no gueto em nove diários, os
quais dentro do fundo da diretora do documentário assumem outra função
arquivística.
Considerando a diretora como titular desses, pois estes documentos são
integrados ao filme, no caso as cópias em relação aos documentos do ponto I) e
do ponto III), consequentemente, afirmando que, nesse contexto, fazem parte de
uma unidade maior que é o filme e tendo por base o texto de Lopez, sem tem:
[Retificado]
Fundo/titular
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Espécie
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Função Arquivística
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Tipo Arquivístico
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Yael Hersonski
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Transcrição de testemunho
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Registro de informações para alimentar a
composição de filme
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Transcrição de testemunho para
registro de informações para alimentar a composição de filme. (Simplificável
para transcrição de testemunho para
composição de filme)
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Yael Hersonski
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Testemunho oral
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Testemunho oral para registro de
informações para alimentar a composição de filme. (Simplificável para testemunho oral para composição de filme)
|
Yael Hersonski
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Diário
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Diário para registro de informações
para alimentar a composição de filme. (Simplificável para Diário para composição de filme)
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Fundo: Yael Hersonski
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Função
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Espécie
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Nº de docs
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Datas-limite #
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Registro de informações para
alimentar a composição de filme
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Testemunhos orais
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4*
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[?]
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Diário
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9
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[?]-[1942?]
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Transcrição de testemunho
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1
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[1960?]-[1969?]
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*Como os testemunhos são mostrados em
recortes durante o documentário, conta-se um testemunho para cada pessoa que
testemunhou.
#Datas-limite incertas, não
explícitas no documentário.
Definição da função:
Registro de informações para alimentar
a composição de filme: Coleta de informações para ilustração,
composição, para a exposição de diferentes olhares sobre o cotidiano para a
melhora da qualidade das informações que constroem o filme.
Referência: LOPEZ, A.
Identificação de tipologias documentais em acervos de trabalhadores. In:
MARQUES, Antonio José; STAMPA, Inez Tereznha Stampa. (Orgs.). Arquivos do mundo
dos trabalhadores: coletânea do 2º Seminário Internacional. São Paulo; Rio de
Janeiro: CUT; Arquivo Nacional, 2012, p. 15-31.